Agora dia 22 de Março de 2021, Fernanda Montenegro deu uma aula para alunos da Loyola Academy e também brasileiros não matriculados na mesma, mas que fizessem inscrição no encontro de Zoom.
Vou trazer alguns dos pontos que achei mais interessantes (além do fato de centenas de alunos poderem realizar o sonho de ter uma aula com ela. Muitos, inclusive professores, não conseguiram evitar e se emocionaram com a conversa).
- Quando questionada sobre qual dica daria a atores iniciantes, Fernanda deu o conselho que costuma dar quando a pergunta aparece em entrevistas: Desista.
Muitos ficaram confusos, até que Montenegro continuou: "se não conseguir, se ficar em tal desassossego por não estar fazendo isso, que não consiga dormir, aà volte."
Com décadas de carreira, ela compartilhou muitas das alegrias e dos "perrengues" que passa uma atriz durante sua vida, desde conflitos que podem aparecer com colegas de elenco, até ser acometida pela falta de inspiração no meio de uma cena e ver-se tendo que preencher a personagem com algo, seja o que for.
- "No começo, quando eu fazia teatro, me perguntavam "Como você acha que esse personagem se veste?", então a gente se vestia do jeito que acreditava ser. Perguntavam "Como você acha que ele anda?", então a gente andava assim, como acreditava ser.
Quando chegava o figurino, completamente diferente, muitas vezes, do que tÃnhamos em mente, nós nos adaptávamos". E seguiu com mais um conselho: "É isso, ao atuar, não é pra cristalizar nada. É vivo, é uma descoberta, a cada dia uma nova adaptação. Não deixa também de ser uma agonia (risos). Tem dias em que vem a inspiração, tem dias que não, aà você tem que carregar aquela personagem, aquela cena. É aquela frase, há dias em que nem a plateia tem talento".
- A melhor parte da aula, a meu ver, foi quando um aluno pediu ainda mais uma dica para atores iniciantes, uma dica de como melhorar nossa atuação. E Fernanda Montenegro nos presenteou com uma resposta que ecoou e vai ecoar por muito tempo:
"Fundamental é "to play". É fazer. Representar, representar. As vezes, você alcança a arte, no meio de uma cena, você sente, sabe que bateu ali, que chegou ali. Por que você sempre quer alcançar um pouco mais.
É como um artesão. Ele faz sapatos todos os dias. Um dia ele faz uma sola que suas mãos nunca tocaram - e talvez nunca mais vão tocar-. O que alimenta você é o fazer.
Você tem oito a dez horas por dia pra tocar um Beethoven no piano. Mas.... um dia você toca Beethoven".
O encontro seguiu com mais uma série de histórias e conselhos, dúvidas e respostas, e durou das 17:30 até perto das 20:00, deixando todos emocionados e impressionados com a grandeza, lucidez e experiência de Fernanda Montenegro, aos 91 anos colecionadora uma sabedoria inenarrável, que felizmente pôde compartilhar - ao menos um pedacinho - com a centena de jovens que a escutavam, imóveis e atentos, desejosos por ficar lá a escutando por mais meses e meses.
